O retorno de um gigante.
O supra sumo dos Role-Playing Games orientais está de volta. Depois de uma incursão bem sucedida nos MMORPG com Final Fantasy XI e de um spin-off de acção na forma de Dirge of Cerberus, a Square Enix regressa à PS2 com uma aventura de referência, onde está bem patente a linhagem desta lendária saga.
Final Fantasy XII, sendo fiel ao seu nome, é a última fantasia que irá agraciar a Playstation 2, mas nem por isso a Square descurou o processo de desenvolvimento do jogo. Mais que tudo, a equipa de criativos empenhou-se em remodelar o sistema de jogo clássico, dando assim cara lavada a algo que, com o tempo, se havia tornado previsível.
Descansem os puristas e os amantes dos turnos. As mudanças são muitas mas, na sua maioria, incutem ao jogo uma jogabilidade dinâmica que é muito bem vinda, ao mesmo tempo que retêm o sabor especial que cada jogo da série conseguiu trazer até ao público. É um daqueles casos de um casamento feliz entre a inovação e a tradição.
Todavia, para começar, digam adeus aos turnos como os conhecem. Indo buscar o sistema de FF XI, o jogador pode agora movimentar-se em tempo real pelo cenário e ver todos os inimigos que ali se encontram. Aproximando-se destes, entram imediatamente em modo de combate, activando uma barra de acção que dita quando podem agir.
Esta barra é uma evolução da clássica ATB (Active Time Bar), introduzida pela primeira vez no sexto título da série. Depois de escolherem um alvo e uma acção, esta só será desencadeada quando a barra estiver completa, o que pode acontecer a velocidades variáveis, dependendo da vossa estatística de agilidade.
A grande diferença introduzida por este sistema é a de que é virtualmente impossível controlar os três membros da party manualmente. O grupo de aventureiros terá de ter sempre um líder, que é a personagem que controlamos directamente, enquanto que os seus restantes companheiros são controlados pelo jogo.
É possível pausar o jogo e dar-lhes ordens específicas, mas não são poucas as batalhas em que o caos é tal, que estaremos cheios de "trabalho" com uma só personagem. Mesmo assim, Final Fantasy XII dá-nos a oportunidade de personalizar o comportamento dos nossos companheiros de uma forma muito flexível.
É aqui que entra o sistema de Gambits introduzido neste novo jogo. Resumidamente, um Gambit é uma linha de comando programável que, sempre que determinadas condições são cumpridas, diz a uma personagem qual a acção que esta deverá executar em forma de resposta. E é mais simples do que podem pensar.
Imaginem que estão sob ataque e a vossa energia se esgota rapidamente com os golpes inimigos. Quando um elemento com a habilidade de cura se juntou ao grupo, criaram para ela um Gambit que diz para, sempre que a energia de uma personagem estiver abaixo dos 50 por cento, esta deverá lançar um feitiço de cura sobre essa personagem.
Logo que a condição dos 50 por cento se vir satisfeita, o mago, de forma automática, começará a lançar o feitiço. Cada personagem tem acesso a um número limite de Gambits, que podem ser organizados de forma hierárquica, cingirem-se a alvos específicos e até fazer uso de qualquer habilidade a que essa personagem tenha acesso.
Jogando com este sistema, é possível criar estratégias muito específicas para lidar com situações exigentes, ao mesmo tempo que se liberta o jogador de uma gestão ponto-por-ponto da acção. Simplicidade e eficácia a um nível que nunca tínhamos visto dentro da série e uma adição que certamente será a norma daqui para a frente.
Também o sistema de evolução da personagem sofreu uma renovação profunda. Ao contrário de FF X, onde o tabuleiro de evolução colocava alguns entraves à aquisição de habilidades, a liberdade em FF XII é quase total, sem a utilização de alguns portões e chaves que isolavam skills muito poderosas e as limitavam a personagens especificas.
O novo sistema tem o nome de Licence System, e opera através de um conjunto de licenças que os jogadores têm de comprar. Estas estão dispostas num tabuleiro de xadrez e referem-se a habilidades das personagens, mas também a todos os itens do jogo. Isto é, se quiserem usar uma arma ou peça de armadura específica, terão de comprar a licença para a mesma.
Sempre que compram uma licença, as que lhe estão adjacentes são reveladas, cabendo ao jogador seleccionar as que mais lhe interessam. Como já referimos, a liberdade de escolha é total, pelo que não existem predefinições nem grandes limites para as habilidades e papéis que as diferentes personagens podem tomar.
Mas mesmo com todas estas alterações em relação ao que um fã de Final Fantasy costuma esperar destes jogos, a Square conseguiu manter uma enorme coesão nos conteúdos globais da série. Referências a jogos anteriores, Espers, elementos eternos, como Cid, está tudo presente, pelo que a transição será mais simples do que podem imaginar.
A estória também ajuda bastante neste campo, regressando a Ivalice, o cenário introduzido no distante Final Fantasy Tactics. No entanto, fugindo a alguma ingenuidade que vinha sendo hábito em termos narrativos, Final Fantasy XII entrega-nos um conto de proporções épicas, muito mais adulto do que o habitual.
Neste caso, somos atirados para o centro de uma revolta na cidade de Rabanastre, que acabou de ser conquistada pelo Império. No papel de Vaan, o irmão de um jovem que faleceu durante o ataque do Império, teremos de percorrer o mundo em busca de respostas e sentido, ao mesmo tempo que vamos conhecendo personagens memoráveis.
Nada de novo por aqui, a série Final Fantasy sempre foi conhecida pelas suas narrativas barrocas e intrincadas e o décimo segundo título não desaponta neste campo. Há, no entanto, uma melhoria notável no trabalho de vozes deste jogo, que só pela sua qualidade dá logo uma força diferente à estória.
Aliás, na G4mers temos preferência pelas vozes originais japonesas sempre que possível, mas este não é o caso de Final Fantasy XII, tal a excelência do rol de actores que trabalharam nas dobragens. Cada voz adapta-se na perfeição à sua personagem e mesmo as vozes de personagens secundárias estão bem conseguidas.
A juntar-se ao trabalho de vozes, o design dos cenários, personagens e demais objectos mantém o elevado nível de qualidade, mostrando o porquê da equipa de criativos da Square ser considerada uma das melhores. Cidades flutuantes, desertos sem vida, magia e mechs convivem lado a lado num mundo de sonho.
Tudo isto é-nos mostrado dentro de um jogo que, infelizmente, já começa a sentir os efeitos da idade da PS2. Os gráficos são excelentes, se tivermos em conta os padrões da consola, mas não são de todo topo de gama, como FF X o foi nos seus dias. A isto, some-se ainda o facto do lançamento japonês já contar com mais de um ano em cima das costas.
Final Fantasy XII funciona em pleno como título de transição. Utilizando o final de vida da Playstation 2 como mote, a Square Enix entrega-nos um título que, sem renunciar à tradição da série, dá largos passos em direcção ao futuro da mesma. O resultado não poderia ser melhor.
Mantém-se a sensação de maravilha que só Final Fantasy transmite e introduz-se um sistema de combate que tem tanto de táctico como de flexível, acabando este por insuflar nova vida e dinamismo a uma fórmula já um pouco gasta, deixando-nos sedentos de pormenores sobre a décima terceira entrega.
Por tudo isto, Final Fantasy XII é um jogo obrigatório para os amantes do género ou qualquer jogador que se preze, vindo mostrar que a PS2, se bem que cansada, está a ter um final de vida verdadeiramente fenomenal em termos de qualidade de software. Mas tudo isto são pormenores. Ivalice espera por vós.
Editora: Square Enix
Software House: Square Enix
Plataforma: PlayStation 2
Género: Role Playing Games
Narrativa excelente, como é hábito da série
95
O novo sistema de combate
95
O sistema de licenças e a liberdade que este permite
90
A linearidade pode não agradar a todos
60
A PS2 dá mostras da sua idade
60
TOTAL:90
by:g4mers